[TP1] Pré-Existências: Evolução da EPTG
- Lia Soares
- 29 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de set. de 2020
A Estrada Parque Taguatinga (EPTG) foi o primeiro eixo de ligação entre o Plano Piloto e Taguatinga. O conceito de "estrada parque", inspirado na ideia americana de "parkway", é o de uma via que se integre à natureza, acentuando recursos cênicos para uma viagem prazerosa, principalmente de carro. No entanto, as dinâmicas sociais e diversas decisões políticas acabaram por resultar na ocupação de suas margens, e hoje não se vê mais o princípio bucólico que guiou seu planejamento.

EPTG em 1972. Fonte: Histórias de Brasília

EPTG em 2019. Fonte: Metrópoles
O Distrito Federal se desenvolveu de forma polinucleada. A partir do Plano Piloto de Lucio Costa, de 1957, o planejamento da ocupação do território se deu por meio de planos de ordenamento, que se fizeram necessários devido ao grande boom populacional a partir da década de 70, que geraram grandes assentamentos urbanos. O Plano Estrutural de Ordenamento Territorial (PEOT), de 1977, iniciou uma série de projetos de macrozoneamento do território, observando cenários a longo prazo e determinando vetores prioritários de expansão, implantação de infraestrutura urbana e geração de emprego e renda.

Plano Estrutural de Ordenamento Territorial (PEOT) de 1977. Fonte: Regiões Administrativas do Distrito Federal, de 1960 a 2011, Graciete Guerra da Costa.
Assim, a expansão pelo eixo sudoeste em direção à Taguatinga e ao Gama foi planejada. Com a evolução da ocupação urbana do DF, a EPTG se tornou um eixo articulador entre SIA, Guará, Águas Claras, Vicente Pires, Taguatinga e Ceilândia, além de também, indiretamente, Park Way, Samambaia, Riacho Fundo, Octogonal, Cruzeiro e Sudoeste.
O projeto urbanístico de Taguatinga, de Lucio Pontual Machado e Milton Pernambuco da Rochak, é composto de uma malha urbana delimitada pela Estrada Parque do Contorno (EPCT) e dividida simetricamente pela EPTG, ao longo da qual se encontram os principais equipamentos urbanos. Em 1959, foram contratados serviços de reflorestamento para a capital, e eucaliptos e outras espécies exóticas foram plantadas a partir de 1962 em áreas específicas para o cultivo às margens das estradas parque em substituição à vegetação nativa (SILVA, 2018).

Em vermelho, a EPTG.
Autoria do mapa: Lia Soares
Dados e imagem de satélite: GeoPortal - DF (acesso em 29/08/2020)
Se originalmente as estradas parque serviam como delimitadoras da ocupação urbana e tinham uma preocupação bucólica e com a estética da viagem de carro, a crescente demanda de moradia e assentamentos acaba por exigir seu tradicional lugar: à beira de estradas.
As estradas não são apenas facilitadores de caminho, mas também indicam maior facilidade da infraestrutura urbana chegar até o local: abastecimento de água e energia e saneamento básico. Assim, atraem a ocupação tanto planejada quanto espontânea.

Em vermelho, a EPTG.
Autoria do mapa: Lia Soares
Dados e imagem de satélite: GeoPortal - DF (acesso em 29/08/2020)
O adensamento urbano ao longo da EPTG, com a construção de Águas Claras e o crescimento de Vicente Pires nos anos 1990, levou a projetos de alargamento viário para aliviar o grande tráfego na via. Os eucaliptos foram derrubados, e hoje a estrada tem aproximadamente 135 metros, recortando e segregando o tecido urbano. Essa separação intensifica as diferenças entre os diferentes grupos sociais que ocupam a região, e ressalta a falta de articulação na organização espacial e na distribuição de atividades e empreendimentos de maneira desigual no território.
Um equipamento urbano que visava a conexão, hoje a EPTG é um rasgo urbano que fragmenta o tecido urbano e as relações sociais.
Referências
BRASÍLIA (Distrito Federal). Governo do Distrito Federal / Zoneamento Ecológico-Econômico do Distrito Federal. Avaliação das Estratégias de Ordenamento e Monitoramento Territorial no Período 1997-2015. Brasília: GDF, 2017.
COSTA, Graciete Guerra da. As Regiões Administrativas do Distrito Federal de 1960 a 2011 / Graciete Guerra da Costa; orientador Andrey Rosenthal Schlee - Brasília, 2011 536p. Dissertação (Doutorado - Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de Brasília, 2011.
SILVA, Sued Ferreira da Paisagens Atravessadas: Projeto, experiência e cotidiano na Estrada Parque Taguatinga em Brasília / Sued Ferreira da Silva; orientador Luciana Saboia Fonseca Cruz -- Brasília, 2018 296 p. Dissertação (Mestrado - Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -- Universidade de Brasília, 2018.
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